A vitamina D é um dos nutrientes essenciais para nossa saúde. Em nosso corpo, tem papel importante na constituição dos ossos, já que é responsável pela absorção do cálcio. Além disso, ela também auxilia no fortalecimento do sistema imunológico, cardiovascular, prevenção e tratamento da Diabetes, da Hipertensão Arterial e até mesmo do câncer. A vitamina também interage diretamente na regulação da liberação de hormônios da paratireoide, como por exemplo o paratormônio, que reabsorve o tecido ósseo. Outra contribuição comprovada da vitamina D está nas funções dos músculos, fortalecendo-os e reduzindo o risco de queda em indivíduos mais velhos.
Apenas em 2012, mais de 8.000 artigos científicos foram publicados sobre o tema. Alguns destes apostam que, se esta vitamina fosse descoberta hoje, ela teria sido classificada como pro-hormônio. Isso porque suas propriedades podem regular milhares de genes espalhados por todos os tecidos do corpo humano. Recentemente, pesquisadores da Universidade de Oxford mapearam o nosso genoma e descobriram mais de 2.700 receptores de vitamina D e assim concluíram que ela atua regulando mais de 2.500 genes. Dentre os estudos acerca do assunto, alguns chegaram à conclusão de que esta vitamina pode ser fundamental na prevenção do câncer de cólon, próstata e mama, assim como no tratamento da diabetes, doenças cardiovasculares, hipertensão arterial e algumas doenças autoimunes como artrite reumatoide, lúpus e esclerose múltipla.
É importante destacar que a velocidade dos estudos tem sido tanta que muitos deles necessitam maiores ensaios clínicos. Entretanto, temos o respaldo suficiente para ampliar o nosso arsenal terapêutico com dosagens individualizadas de vitamina D.
Uma das causas que justifica a pandemia (epidemia mundial) de deficiência de vitamina D, que temos presenciado, é a baixa exposição aos raios UV-B, condição imprescindível para a formação da vitamina. No Brasil, por exemplo, mais de 60{38daca63331c1b4c3153deb733e3b90a2d84c598910130c407bc908db2a28b64} da população tem insuficiência ou deficiência de Vitamina D. Esta produção depende de uma série de fatores como a intensidade da luz, que varia com a estação do ano, período do dia, clima – cobertura das nuvens no período – e nível de poluição do ar.
Para melhor entenderem, a vitamina D3 é produzida poucos minutos após exposição solar (UV-B). Na pele, temos uma molécula derivada do colesterol chamada 7-dehidrocolesterol. Esta, por sua vez, transforma-se em uma pré-vitamina D3, que é transportada para o fígado onde será convertida em 25-hidroxivitamina D3 (calcidiol). Esta forma de vitamina D é passível de ser dosada pelo sangue. Porém, para exercer suas funções, ainda necessita ser convertida pelo rim para a sua forma ativa conhecida como 1,25-hidroxivitamina D3 (calcitriol).
Os alimentos são outras fontes importantes de aquisição de vitamina D. Atum, sardinha, fígado bovino, ostra, ovos, cogumelos, óleo de fígado de bacalhau, suco de laranja e salmão são riquíssimos na vitamina. Quando a alimentação não fornece quantidade suficiente do nutriente e a exposição ao sol é limitada, outra opção para se conseguir a vitamina D são os suplementos. No entanto, essa opção deve ser avaliada e indicada de acordo com a orientação médica e sua individualidade.
Falamos que uma das principais causas para deficiência de vitamina D é a indevida exposição solar. Porém, alguns outros fatores também podem levar à sua deficiência, tais como: condições médicas específicas (Doenças do rim e fígado, Fibrose cística, Doença de Crohn, Doença Celíaca, Cirurgia de bypass gástrico e Obesidade); idade, já que com o tempo a produção da vitamina pela pele diminui; pigmentação da pele, quanto mais escura a pele menor a capacidade de produção da vitamina; e uso de alguns medicamentos (laxantes; anti-inflamatórios (prednisona), drogas para diminuir o colesterol (colestiramina e colestipol); drogas para controle de convulsão (fenobarbital e fenitoína); drogas contra tuberculose (rifampicina) e drogas para redução de peso (orlistate)).
Nestes últimos anos, muito tem se discutido sobre os níveis de vitamina D no sangue. Na prática médica, cada colega opta por uma linha de raciocínio. Eu, particularmente, defendo que os níveis de vitamina D devam estar entre 50-100 ng/ml ou 80-250 nmol/L:
O tratamento e prevenção da deficiência da vitamina D acontece primeiramente pelo alcance do nível sanguíneo considerado adequado e posteriormente a manutenção deste nível. Para isso recomenda-se:
– Ter uma alimentação balanceada rica em alimentos que contenham o nutriente.
– Realizar uma exposição solar segura, respeitando a quantidade necessária e horários. Costumo recomendar um tempo médio de 20 a 25 minutos ao sol entre as 10h e 16h por duas a três vezes na semana, período desaconselhado por muitos colegas médicos, que enfatizam a maior emissão de raios UVB com danos à saúde. É valido ressaltar que, quanto menor a incidência de radiação UV-B, menor será a síntese de vitamina D na pele. Portanto, necessitamos que a exposição seja entre os horários descritos acima. Também aconselho que, durante os minutos de exposição, não devemos utilizar nenhum tipo de protetor solar nos braços, pernas, abdômen e costas, mas com o rosto sempre protegido. Depois desses minutos, se o indivíduo continuar em contato com altas cargas de radiação, como por exemplo praia e rotina de trabalho ao ar livre, aconselho o uso do filtro solar.
– Suplementar, podendo ser por duas formas distintas, vitamina D2 (Ergocalciferol) e vitamina D3 (Colecalciferol). Sua posologia deve ser orientada por um médico a partir da avaliação de exames laboratoriais de cada paciente. Assim, o resultado do tratamento será mais eficaz e seguro.
– Câncer: Como citado no início do artigo, sabe-se que a vitamina D pode regular a expressão de genes em muitos processos celulares, incluindo a proliferação das células cancerígenas, a indução de apoptose (morte celular programada), a diferenciação das células e uma série de efeitos imunomoduladores que pode ser direta ou indiretamente associados ao surgimento do câncer. Em 2007, Lappe et al., através de um estudo com mulheres na pós-menopausa que ingeriram de 1400 a 1500 miligramas de cálcio e 1100 UI de vitamina D, diariamente, por 4 anos, perceberam que houve redução em mais de 60{38daca63331c1b4c3153deb733e3b90a2d84c598910130c407bc908db2a28b64} do risco delas desenvolverem todos os tipos de câncer, quando comparadas a um grupo de mulheres que ingeriu placebo. Vários tipos de câncer foram associados com a diminuição dos níveis de vitamina D, incluindo câncer de mama, ovários, cólon e de próstata. Regiões mais ensolaradas, próximas ao Equador, apresentam uma redução de mais de 50{38daca63331c1b4c3153deb733e3b90a2d84c598910130c407bc908db2a28b64} da incidência de tais doenças.
– Doenças autoimunes: Artigos acadêmicos de renome comprovaram que a vitamina D atua nos linfócitos T helper, conhecidos como linfócitos reguladores, ajudando a controlar o sistema alterado e agressor. Assim, resultados muito interessantes começam a ser documentados do uso de vitamina D em outras doenças autoimunes como Lupus, Artrite Reumatóide, Psoríase e Esclerose Múltipla.
– Longevidade: Segundo dados do Canadian Medical Association Journal e de acordo com uma pesquisa realizada no Centro Médico da Universidade Leiden, na Holanda, os níveis otimizados de vitamina D, dentro do limite superior da normalidade, podem estar associados à longevidade. O estudo avaliou as concentrações séricas de vitamina D e o comprimento dos telômeros (parâmetro para determinar longevidade) em 2160 mulheres com idade entre 18 e 79 anos. Verificou-se que níveis mais altos de vitamina D podem alterar o comprimento dos telômeros de leucócitos, que destaca os efeitos potencialmente benéficos deste hormônio sobre o envelhecimento e doenças relacionadas à idade.
– Doenças Cardiovasculares: Confere-se à vitamina D uma potente atuação antioxidante e anti-inflamatória, fato este que previne a oxidação do colesterol no interior dos vasos e, desta forma, previne as doenças cardiovasculares e suas terríveis complicações como hipertensão arterial, acidente vascular cerebral (AVC), infarto agudo do miocárdio (IAM), entre outras.
– Obesidade: Sabe-se que a obesidade é uma doença crônica de caráter multifatorial. Dentre as causas mais estudadas, destacamos o desequilíbrio entre as vias orexígenas e anorexígenas (fome e saciedade), resistência à leptina (hormônio da saciedade), herança genética, imprinting metabólico e alterações hormonais. Estudos apontam que a deficiência de vitamina D também pode ter relação com o aumento da adiposidade, gerando um ciclo que deteriora ainda mais os índices da própria vitamina. Justificamos esta hipótese porque a vitamina D é uma substância lipossolúvel facilmente sequestrada e estocada no tecido adiposo, sendo que sua liberação para a circulação, em situações de necessidade, tem atuação sobre a Leptina. Além disso, a vitamina D aumenta o anabolismo das proteínas, ajudando no desenvolvimento dos músculos. Assim, tudo indica que sua deficiência contribua para a obesidade.
– Diabetes Mellitus: Foi publicado na famosa revista acadêmica inglesa “The Lancet” que uma alimentação ou suplementação com teor razoável de vitamina D pode reduzir o risco de diabetes tipo 1 em até 80{38daca63331c1b4c3153deb733e3b90a2d84c598910130c407bc908db2a28b64}. A conclusão baseou-se em uma pesquisa com mais de 12 mil pessoas nascidas em 1966 no norte da Finlândia. Diferentemente da diabetes do tipo 1, os mecanismos patogênicos envolvidos na tipo 2 incluem aumento da inflamação sistêmica, obesidade e resistência insulínica, sendo que múltiplos estudos demonstram uma influência da vitamina D sobre estes mecanismos. Em um artigo de revisão por Palomer at all, verificou-se que a vitamina D melhorou os níveis de glicemia e secreção de insulina em pacientes com diabetes tipo 2.