A Síndrome da Fadiga Crônica (SFC) é uma patologia definida por um conjunto de sinais e sintomas que resultam numa sensação de cansaço generalizado ou falta de energia que não está relacionada exclusivamente à exaustão e que não é aliviada pelo repouso e sono.
É importante distinguir a SFC com outras inúmeras patologias que cursam com fadiga. O sintoma fadiga pode ser dividido por diferentes entidades, conforme a duração e apresentação de demais sintomas: (1) fadiga prolongada – fadiga incapacitante e prolongada com duração de pelo menos um mês; (2) fadiga crônica – fadiga incapacitante e prolongada, com duração de pelo menos seis meses. Quando a fadiga crônica é inexplicada por outras condições médicas ou psicológicas, ela se subdivide em idiopática ou Síndrome da Fadiga Crônica (SFC).
Em primeiro lugar, deve-se saber que cada doença reconhecida pelas sociedades médicas no mundo têm um código administrado pela Organização Mundial de Saúde, a Classificações Internacionais de Doenças (CID). Segundo a sua última versão- CID-10, a SFC ganha o código de G93.3. Embora classificada como uma doença do sistema nervoso central tendo sido abordada por neurologistas como sinônimo de Encefalomielite Mialgica (EMM) sua etiologia é muito controversa.
A fisiopatologia da SFC envolve algumas teorias, dentre elas a (1)Neuro-imunológica, (2)Psicológica e uma mais recente (3) Hipoativade do eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal (HPA). Em particular eu acredito muito na teoria da hipoatividade do eixo HPA fundamentada por diversos artigos científicos e verdadeiros tratados escritos pelo Dr. James L. Wilson e Dr. Lam. O problema é que, embora a Doença de Addison (insuficiência adrenal grave) tenha recebido há decadas o CID 27.1, na atualidade não há código para a Fadiga Adrenal e esse entrave tem causado divergências de opiniões entre a literatura médica, inclusive com o não reconhecimento da Sociedade Brasileira de Endócrinologia e Metabologia.
Em particular eu acredito que com o tempo este entrave termine em um bom desfeche, tome o hipotireoidismo subclínico como exemplo. Alguns anos atrás, a maioria dos endocrinologistas se recusava a diagnosticar o hipotireoidismo subclínico. Atualmente, esses mesmos endocrinologistas estão muito mais inclinados a diagnosticar tal patologia, porém infelizmente, essa evolução levou cerca de 20 anos. Portanto, pode levar algum tempo para que a mesma lógica seja aplicada à Fadiga Adrenal.
A teoria da Hipoatividade do eixo HPA (Fadiga Adrenal) por não ter seu registro no CID e por cursar com manifestações clinicas que cabem a SFC é reconhecida por muitos como sinônima a patologia propriamente dita. Estima-se que só nos EUA somam-se mais de 9 milhões de doentes com diagnóstico de SFC.
As alterações na homeostasia incluem disfunções do metabolismo de carboidratos, proteínas e gorduras, dequilíbrio de fluidos e eletrólitos, aumento de risco para doenças cardiovasculares e neurológica, alteração da flora intestinal-favorecendo a disbiose intestinal, disfunções hormonais, doenças psquiatricas e de diversos outros sistemas podem culminar em sinais e sintomas extensos:
• Astenia pela manhã (mesmo dormindo bem) que persistente ao longo do dia e impacta negativamente o convívio social, vida profissional e prática regular de atividade física;
• Letargia com diminuição da concentração e memória recente;
• Dificuldade em vencer os gatilhos estressores diários, com irritação demasiada;
• Letargia com diminuição da concentração e memória;
• Compulsão por alimentos sabidamente calóricos pois tende-se a buscar energia de forma inconsciente: carboidratos refinados, cafeína e bebidas estimulantes;
• Astenia extrema após o exercício físico que pode durar até 24 horas após;
• Níveis mais elevados de energia à noite;
• Cansaço extremo após uma situação estressante;
• Dor nas articulações e musculatura;
• Vertigem, cefaléia e hipotensão arterial;
• Baixo desejo sexual em função do cansaço;
• Ganho de peso em função do cansaço e da compulsão alimentar por carboidratos refinados. Entre outros…
Existem alguns pontos imprescindíveis para o diagnóstico da SFC, o primeiro é entender que há divergências de conceitos na literatura, que muitas patologias cursam com fadiga e que a SFC passa a ser uma patologia e não um sintoma. Um dos conceitos de diagnóstico mais utilizados em pesquisa e na prática clínica são:
• Oxford, UK: Fadiga importante, incapacitante a pelo menos seis meses de duração que afeta duplamente o funcionamento mental e físico; Presença por mais de 50% do tempo; Acompanhamento de outros sintomas, particularmente mialgia, distúrbios do sono e do humor.
• Centers for Disease Control and Prevention – CDC: Fadiga por mais de seis meses, limitante com piora após esforço físico ou mental; Exclusão de outras causas principais de fadiga; Presença de distúrbio do sono e/ou humor.
• Pesquisas de Fukuda et al. (1994): Fadiga persistente ou recorrente com início definido por no mínimo seis meses, somada a no mínimo quatro de oito queixas subjetivas específicas: (prejuízo substancial na memória de curto prazo e na concentração, amigdalite, sensibilidade nos linfonodos cervicais ou axilares, mialgia, artralgia sem evidência de artrite, cefaléia de tipo diferente – em relação ao padrão e à severidade – do que costumeiramente o paciente apresentava, sono não restaurador, mal-estar pós-exercício de duração maior que 24 horas).
Os objetivos primários do tratamento consistem no alívio dos sintomas e em maximizar a capacidade funcional. Outros elementos adicionais no manejo consistem em desenvolver um entendimento claro e mútuo da natureza do problema, e expectativas realísticas sobre as possibilidades de desfechos em longo prazo. Aqui incluímos:
• Acompanhamento multidisciplinar: Médico, Nutricionista, Psicólogo, Educador Físico;
• Manejo do estresse: Muitos trabalhos têm fundamentado bons resultados com Mindfulness, Terapia Cognitivo Comportamental e Atividade física regular;
• Suplementação individualizada: KSM-66, Relora, Biointestil, Pinetonina, Probióticos, Omega-3, Magnésio, 5HTP, Vitamina C tamponada, Carbonato de cálcio, Zinco glicina, entre inúmeros outros…
• Terapias medicamentosas: Inibidores da MAO, antidepressivos, ansiolíticos;
• Modulação Hormonal: A sua introdução dependerá de cada fase de exaustão adrenal. Nos casos mais avançados costuma-se introduzir Hidrocortisona base, DHEA, Ocitocina, Testosterona base, entre outros hormônios bioidênticos.